Se lhe perguntassem o que U2, David Bowie e Coldplay tem em comum, você certamente ficaria intrigado, a musicalidade do Coldplay até lembra a do U2, mas ambas não tem nada com o David Bowie, não são contemporâneos, e também não possuem um estilo estético e musical semelhantes. Eu diria que os três possuem em comum o segredo de seus maiores sucessos, e este segredo chama-se estratégias oblíquas.
Brian Eno e Peter Schmidt criaram em 1975 um conjunto de cartas de baralho de 9×7 cm, cada carta contém uma frase enigmática para provocar de solução para um dilema.  Pode parecer estranho que um conjunto de cartas criadas em 1975 sejam o segredo dos grandes sucessos deste músicos incríveis, mas foram. Brian Eno é conhecido como catalisador de criatividade, suas cartas apresentam propostas inusitadas como:

  1. Toque um instrumento diferente.
  2. O que seu melhor amigo faria?
  3. Tente imitar!
  4. Assuma um erro como intencional.
  5. Defina uma área como “segura” e use-a como uma ancora.
  6. Faça algo chato.
  7. Vá para fora, bata a porta.
  8. Vire de ponta cabeça.

São ao todo 100 frases sugerindo ações diversas baseadas na experiência de Brian, que é musico, compositor, produtor e conhecido como inovador no meio musical.
A questão é de que forma usar estas frases pode produzir sucessos? As cartas de estratégias oblíquas são focadas no processo criativo, são baseadas no pensamento lateral, o pensar fora da caixa. O pensamento lateral se baseia numa abordagem para solução de problemas de forma criativa e indireta, afastando-se da lógica passo-a-passo da metodologia tradicional. 47918_maxO pensamento lateral permite que você vislumbre problemas e soluções que nunca teve, e encontre soluções extremamente criativas. Existem diversos puzzles para auxiliar e estimular o pensamento lateral, o mais popular é o desafio de ligar nove pontos com apenas quatro linhas sem cruzar duas vezes o mesmo ponto, cuja solução está na figura ao lado.
O pensamento lateral está mais preocupado com o “valor de deslocamento” de declarações e ideias. O pensamento lateral é usado para deslocar a partir de ideias conhecidas para a criação de novas ideias.  Edward de Bono, que cunhou o termo pensamento lateral em 1967, define quatro tipos de ferramentas de pensamento:

  • Ferramentas de geração de ideias – Tem a intenção de quebrar formatos de pensamento padrões rotineiros atuais, o status quo.
  • Ferramentas de foco – Pretende ampliar a busca por novas ideias
  • Ferramentas de colheita – Destinadas a garantir mais valor obtido da geração de ideias
  • Ferramentas de tratamento – Promovem a consideração das limitações do mundo real, recursos e apoio

As mesmas ferramentas e abordagens utilizadas em livros como Start.e Marketing Lateral e até mesmo a forma como Tony Hsieh descreve no seu livro Satisfação Garantida a forma como construiu a Zappos.
O pensamento lateral pode parecer uma “heresia” em comparação ao pensamento lógico tradicional, veja na tabela abaixo que ele valoriza mais a riqueza do que a solidez de ideias, bem como prioriza a quantidade de soluções possíveis ao invés das soluções mais concretas, é visivelmente uma forma de criar serendipidade, que estimula a criatividade proporcionando descobertas “ao acaso”, entre aspas, uma vez que é preciso estar com a mente preparada e atentos para enxergar estas descobertas.
pensamentolaterallogico
Voltando às estratégias obliquas, acredito que tenha ficado mais claro como um simples baralho pode estar por trás dos maiores sucessos do U2, Coldplay, David Bowie e muitos outros. Termino com uma entrevista que Brian Eno deu à BBC sobre as estratégias obliquas, vale a pena assistir.


João Carlos Rebello Caribé

Consultor em otimização empresarial, com foco em inovação estratégica, gestão do conhecimento, gestão de projetos e processos, e micropolítica corporativa. Professor em MBA em disciplinas das áreas de gestão Empresarial, Marketing, Logística e Recursos Humanos. Mestre em Ciência da Informação pela UFRJ (PPGCI) com o tema “Algoritmização das relações sociais, criação de crenças e construção da realidade”. Empreendedor desde o início de sua carreira, foi sócio em quatro empresas desde então. Com a chegada da Internet no Brasil no final dos anos 90, desenvolveu uma empresa revolucionária, a Flash Brasil, tornando-se referência com um modelo de negócios inovador envolvendo comunidades virtuais com milhares de profissionais. Foi conselheiro para o primeiro Conselho de Coordenação da NETmundial Initiative, junto com profissionais como Jack Ma (Alibaba), Christoph Steck (Telefonica), Penny Pritzker (Departamento de Estado Americano), James Poisant (WITSA), Lu Wei (Ministro do Ciberespaço Chinês), Jean-Jacques Subrenat (EURALO), dentre outros. Também foi membro do Comitê Executivo da NCUC na ICANN, representando a sociedade civil da América Latina e Caribe. Participa da Internet Society Brasil, Coalizão Direitos na Rede, Red Latam, Comunidade Diplo, Dynamic Coalition on Network Neutrality e Global Net Neutrality Coalition, Laboratório em Rede de Humanidades Digitais (LarHud) e Estudos Críticos em Informação, Tecnologia e Organização Social (Escritos).

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