Enquanto você esta saudável e com energia, é pouco provável que pense em um plano de sucessão para sua empresa familiar. Mas você não está só, de acordo com a PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda (PWC), em 2018, 44% das empresas familiares não possuíam um plano de sucessão, e das que possuíam, 72,4% não tinham uma estratégia de sucessão para cargos chave, como diretoria e gerência.

44% das empresas familiares não possuem plano sucessório

A sucessão empresarial, ou a escolha de carreira para pessoas que possuem pais bem sucedidos profissionalmente, parece mais fácil do que realmente é. A questão da escolha de carreira vou deixar para outro texto, vamos focar na sucessão empresarial.

Se você é mãe ou pai bem sucedida(o), que construiu um sólido capital simbólico ao longo de anos de relação profissional, com certeza deseja deixar este legado para seus filhos e filhas. E se você é filho ou filha, certamente deseja pegar um atalho no capital simbólico construído por seus pais, e até mesmo alçar voos mais altos que eles.

Esta questão não é tão simples quanto parece, e pode envolver inúmeros e diversos aspectos técnicos, emocionais, e obviamente familiares. Em termos práticos, pode existir um apego profundo do fundador, a ponto de não conseguir delegar a gestão da sua empresa, por insegurança ou afeto. Também podem não enxergar nos filhos as aptidões adequadas para a sucessão, ou tem questões a resolver sob qual ou quais filhos irão herdar a empresa e quem estará em posto de liderança.

Uma sucessão empresarial não planejada ou mal planejada pode até reforçar o ditado popular: Pai rico, filho nobre e neto pobre. Isto é uma conta simples, tomemos por exemplo uma empresa familiar, que geralmente é uma PME, e que consegue prover um bom padrão de vida para uma família com até cinco pessoas, na sucessão, se todos os três filhos se casarem e tiverem mais três filhos cada um, ja serão 14 pessoas. Isto significa que a empresa teria de triplicar seu faturamento para manter o mesmo padrão de vida. Numa segunda sucessão, serão mais 30 pessoas, totalizando 44 ao todo, se todos ainda estiverem vivos! É uma progressão geométrica!

É obvio que este é um caso hipotético e falho, nem todos os filhos seguem a carreira dos pais, apesar destes ter grande influência sobre suas futuras escolhas, apenas 26% seguem esta influência, e entre 10 a 15% realmente seguem a carreira dos pais. Alias esta matéria publicada no Science Alert tem uns gráficos interessantes, mostrando a probalidade de escolha de carreira dos filhos em função da carreira dos pais.

Apenas 10 a 15% dos filhos seguem a carreira dos pais, apesar de 26% dos filhos decidirem suas carreiras sob sua influência.

Apesar da hipótese matemática que apresentei anteriormente, na prática a empresa familiar acaba sendo uma instituição que, de alguma forma, influencia ou se relaciona com as escolhas de cada filho. Inclusive quando a carreira empresarial dos pais acaba falhando, ela pode afetar negativamente o futuro dos filhos, a ponto de potenciais empreendedores seguirem uma carreira como empregado.

Para ter uma ideia da importância deste tema, segundo a consultoria (PWC), 90% das empresas no Brasil possuem perfil familiar, segundo dados do IBGE, ainda segundo a PWC, estas empresas respondem por 65% do PIB, gerando 75% dos empregos no país.

Não há duvida da importância de um projeto de sucessão empresarial, e em especial se você for proprietário(a) de um pequeno negócio.

Minha angustiante experiência como sucessor

Escrevo estas linhas por experiência própria, vi e vivi estes dilemas, e a empresa da família acabou morrendo junto com o fundador. Foram inúmeras tentativas de criar uma administração profissional, vários momentos propícios para a troca de comando, mas sempre pareciam haver boas razões para adiar esta decisão. Fora isso, inúmeras vezes os administradores contratados ou desistiam de continuar ou sempre apareciam ”bons motivos” para não continuar com eles.

No fundo o problema não estava nos outros, e sim no próprio fundador que por inúmeras razões, na verdade sentia-se inseguro para dar esse passo, existia uma relação quase paternal com a empresa, e o receio de dar errado e ele ter de retornar contra vontade, ou até mesmo da empresa passar por dificuldades financeiras. É absolutamente natural vivenciar estes dilemas, e por esta razão a sucessão empresarial quase nunca é a melhor opção para transferência de poder em vida. Depois de quase treze anos eu desisti, e fui criar a minha própria história.

Refletindo sobre a questão, desenvolvi o modelo de gestão evolutiva, um modelo simples e com enorme potencial de sucesso.

O que é a gestão evolutiva?

Não existe nada de novo ou inédito no que chamo de gestão evolutiva, inclusive algumas empresas familiares ja praticam este modelo há décadas. Na prática é uma mudança de mentalidade (mindset) seguida de ações, ou seja, mudar do “empreendedor(a) da família, para a família empreendedora”.

Mude sua mentalidade de empreendedor(a) da família, para família empreendedora!

Ao longo da vida de seus filhos, ensine-os a empreender, não esquecendo que a própria vida e a educação são empreendimentos. Características como capacidade de observação, pensamento crítico, organização, metodologia, e iniciativa fazem parte da mentalidade empreendedora, isto pode ser ensinado e estimulado sem o prejuízo da evolução natural de seus filhos. Obviamente uma boa educação financeira e resiliência podem fazer-los vencer o desafio do marshmallow! A compreensão de que somos resultados de pequenas interações, desafios e oportunidades ao longo da nossa vida pode ajudar bastante.

No escopo empresarial, a proposta é criar uma empresa holding familiar, onde todos os membros da família são sócios, com igual capital votante, e esta empresa sera sócia de todos os empreendimentos da família. Esta holding pertencerá como dito, a todos os membros da família, sejam eles empreendedores ou não, mas também formará uma espécie conselho, com os sócios administradores das demais empresas da família.

A holding poderá também se tornar uma espécie de investidor anjo, financiando os novos empreendimentos da família que forem aprovados pelo conselho e pela votação dos sócios da holding.

O conselho irá avaliar o desempenho das empresas do grupo, e sugerir ações estratégicas, deixando seus gestores incubidos da operação. Atém disso o conselho irá avaliar os investimentos a serem realizados, bem como a hora de encerrar algum projeto sem retorno ou com retorno duvidoso.

As vantagens deste modelo são evidentes, maior diversificação, menor risco global, mais renda para o núcleo familiar, e crescimento do grupo empresarial atrelado ao crescimento da família.

Espero ter ajudado, se tiver interesse em elaborar um plano sucessório para sua empresa, entre com contato comigo.


João Carlos Rebello Caribé

Consultor em otimização empresarial, com foco em inovação estratégica, gestão do conhecimento, gestão de projetos e processos, e micropolítica corporativa. Professor em MBA em disciplinas das áreas de gestão Empresarial, Marketing, Logística e Recursos Humanos. Mestre em Ciência da Informação pela UFRJ (PPGCI) com o tema “Algoritmização das relações sociais, criação de crenças e construção da realidade”. Empreendedor desde o início de sua carreira, foi sócio em quatro empresas desde então. Com a chegada da Internet no Brasil no final dos anos 90, desenvolveu uma empresa revolucionária, a Flash Brasil, tornando-se referência com um modelo de negócios inovador envolvendo comunidades virtuais com milhares de profissionais. Foi conselheiro para o primeiro Conselho de Coordenação da NETmundial Initiative, junto com profissionais como Jack Ma (Alibaba), Christoph Steck (Telefonica), Penny Pritzker (Departamento de Estado Americano), James Poisant (WITSA), Lu Wei (Ministro do Ciberespaço Chinês), Jean-Jacques Subrenat (EURALO), dentre outros. Também foi membro do Comitê Executivo da NCUC na ICANN, representando a sociedade civil da América Latina e Caribe. Participa da Internet Society Brasil, Coalizão Direitos na Rede, Red Latam, Comunidade Diplo, Dynamic Coalition on Network Neutrality e Global Net Neutrality Coalition, Laboratório em Rede de Humanidades Digitais (LarHud) e Estudos Críticos em Informação, Tecnologia e Organização Social (Escritos).

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